Eu preciso escrever nesse domingo! Aos domingos, especialmente, lembro dos meus mais velhos. E por acaso tem dia de lembrar dos entes amados? Não! Mas aos domingos sinto-me mais rural do que nos outros dias. Aos domingos meu café moído tem um aroma mais especial, jogo água nas plantas, vejo como a jabuticabeira anda mais vistosa do que nunca, miro como as taiobas renascem após cada sequidão premeditada, miro a pedra que me cerca, escuto uns modão no dentroAlma. Domingo é um dia como qualquer outro. De onde estou escuto o barulho do ronco da moto do meu vizinho famoso; o multiartista O Eremita Roots. Sinto que falta-me um fogão à lenha! Mas onde buscaria lenha nesse território de cidade distante do mato.
Digo, pois preciso dizer! Dessas semanas pra cá, os discos ‘’Banzo’’ de Apenas1André e ‘’Nós, do interior das Minas’’ de ClaraOpará, mexeram, remexeram, transpassaram minha alma no profundo. Tenho andado atrelado com o ‘’Banzo’’, em tudo que faço no pormenor das ações rotineiras. A ‘’cerquinha de bambu’’ trouxe-me de volta ao memorial do tempo das hortas bem feitas e cuidadas das minhas avós. Aos domingos eu lembro das minhas avós. Uma saudade sertaneja que permeia minha palavra. Eu tenho uma enxada, herança de capinar aprendida com meu velho pai catiara.
Digo, pois preciso dizer! ‘’Kaô, Kabecilê’’ e ‘’Opará’’ são mais que títulos de músicas. São essências, são entidades de uma africana viva no peito desses poetas aquilombados de versoPulsaçãoAfricania. Uma mescla de poesia, resistência verbal absurda num falar um interior das Minas. Do Triângulo Mineiro ao Vale do Rio Doce, poesia de ‘’Autoestima’’, pois ‘’A palavra é vida’’ no corpoQuilombo de Apenas André e Clara Costa, a quem amo de todo meu coração.
Não paro de escutar, pois essa duas vozes forjam-me como poeta, como ser de palavra de encantaria macetada num pilão gasto pelo tempo carcomido, envelhecido pelo uso! Tenho de uns tempos pra cá colecionando palavras, frases, recortes de flows ditos em batalhas de rima, dizeres ecoados na universidade ou em qualquer canto donde estou em presença. Um dia um Uber disse-me, pra quê se dosar na vida? Quando estou diante de André e Clara, sinto que um ‘’Erê’’ que carrega palavras no seu balaio de coisas doces, abençoa-me de maneira adocicada e profunda. O outro me traz de volta! A escuta desses dois trabalhos calou na alma! Só agradeço por poder conhecê-los pessoalmente!
Aos domingos sou despido dessa casca urbana, coloco essa essência mateira e penso em coisas que não penso no decorrer de semana rueiro. Aos domingos talvez eu receba visitas dos meus ancestres! Talvez seja por isso que tenha plantando um pé de café, talvez para lembrar dos elos que me ligam ás folhas de bananeira, das rezas de espinhela caída, dos bolos de fubá, das chitas com suas flores majestosas, do café que incendeia a casa com seu vocabulário perfumado, dos olhos longínquos desse senhor das palavrasEmbondeiros, dessa mata densa e poderosa dessa senhora que une cidade e mata num corpo só. André e Clara andam comigo, nesse Interior de Minas, nesse banzo que não passa, nem precisar!
Escute Apenas1Andre e ClaraOpará!
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