O diabetes é uma doença crônica em que o corpo não produz insulina ou a insulina produzida não é suficiente. A ausência de insulina leva a uma dificuldade na metabolização da glicose, o que leva a hiperglicemias, ou seja, a alta das taxas de glicose no sangue.
Entre os tratamentos previstos para o diabetes estão o uso de insulinas, indicadas para o diabetes tipo I; a medicação via oral para o diabetes tipo II e além disso, a monitorização constante das glicemias por meio dos glicosímetros e sensores de glicemia, uma dieta saudável e exercícios físicos, para ambos os tipos de diabetes.
São chamadas de “mães pâncreas”, as mães de crianças portadoras de diabetes tipo I, pois são elas que quase 95% do tempo fazem o papel de pâncreas dos seus filhos, até porque, de forma bem resumida, é isso que o tratamento faz, o papel do pâncreas.
Na última semana, na cidade de Ribeirão Preto, uma diretora escolar negou que uma “mãe pâncreas” ficasse na escola para auxiliar no gerenciamento das glicemias de seu filho, uma criança de 5 anos, sob o argumento de que a criança precisava exercitar autonomia.
Na situação específica, a criança estava com o sensor de glicemias alertando uma hipoglicemia e a mãe não conseguiu nenhum contato com gente da escola, para ter a certeza que o filho estava sendo socorrido. Cabe ressaltar aqui, que a hipoglicemia é o baixo nível de glicose no sangue e que se não houver socorro rápido, pode levar a criança a estado de inconsciência, coma e em alguns casos até a morte.
Oras, é de se esperar que uma criança de 5 anos, a autonomia necessária para o gerenciamento das glicemias que são multifatoriais? É de se esperar que uma criança de 5 anos, que não sabe ler e escrever ainda, que ela faça todo o trabalho do seu pâncreas?
Oras, cadê a razoabilidade dessa senhora? E sabe o que é pior?! É razoável sim, exigir dessa senhora que ela saiba o mínimo de desenvolvimento humano, para que não faça exigências descabidas à família de uma criança. De acordo com relatos da mãe, a senhora diretora vem dando problemas desde o final do ano passado.
Pior ainda, é saber que o diálogo necessário entre família e escola só foi aberto porque a “mãe pâncreas” fez um vídeo expondo a situação em rede social e o vídeo viralizou na comunidade de diabéticos. E ainda, a secretaria da educação só começou a intermediar o caso também com a viralização do vídeo. Ademais, esse não é um caso isolado, isso acontece por todo o Brasil, são inúmeras as mães que deixam de trabalhar para cuidar dos seus filhos.
Essas mesmas mães que se veem obrigadas a deixar seus trabalhos, se deparam com uma realidade cruel no tratamento do diabetes, o custo dos insumos. O SUS oferece sim tratamento, mas em muitos casos, insulinas mais modernas e sensores de medir glicemia não são oferecidos. O tamanho disso na família é imensurável, porque antes de qualquer coisa é a sobrevivência dos seus filhos que está em jogo.
Em um país que não enxerga o diabetes tipo I como deficiência, nega-se ao indivíduo portador da doença, os direitos sociais previstos constitucionalmente, como saúde e educação; acompanhantes terapêuticos na escola, são previstos apenas aos deficientes, e a importância deles está justamente em efetivar o acesso à educação e suavizar a carga materna, mas a sociedade não liga para a sobrecarga materna, quiçá, as das mães atípicas!
Gabriela Passos de Barros Borges - Advogada, especializada em casos de violência obstétrica; habilitada para confecção de testamento vital; especialista em Direito Tributário, Direito do Trabalho e Processo do Trabalho; Conciliadora do CEJUC/Justiça Federal do TRF6 e Agente de serviços previdenciários no IPSERV.
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