O Brasil enfrenta um cenário ambíguo no combate à dengue em 2025 — e isso é ainda mais preocupante porque a falsa sensação de segurança causa redução nas medidas de combate e prevenção. As ocorrências prováveis da doença caíram 75% em comparação com o mesmo período do ano passado — totalizando 1.227.148 casos entre janeiro e dia 10 de maio —, sendo mais da metade registrada em São Paulo, com mais de 721 mil comunicações formais. Em Minas Gerais, os registros ultrapassam 136 mil e no Paraná, mais de 104 mil. As mortes seguem em patamar elevado, especialmente nesses três estados.
Segundo dados do Painel de Monitoramento das Arboviroses do Ministério da Saúde, atualizado até 10 de maio, o país contabilizou 865 vítimas fatais e tem 830 em investigação. São Paulo lidera, com 607 confirmações e 517 óbitos em investigação, seguido pelo Paraná, com 66 e 61 em investigação, e Minas Gerais, que soma 61 mortes e 64 em investigação. Nos três estados, os índices superam as médias anteriores e acendem alerta sobre a gravidade da situação.
Ainda de acordo com a pasta, há hoje no Brasil 80 municípios prioritários no enfrentamento à doença. Desses, 55 estão em São Paulo, 14 no Paraná e 11 distribuídos entre Bahia, Goiás, Rio Grande do Norte, Acre e Pará, abrangendo todas as regiões do território nacional. Considerando o volume total de notificações, 73% estão concentradas em São Paulo, Paraná e Minas Gerais — estados que também respondem por 86% das mortes.
Vale lembrar que, segundo o Boletim Epidemiológico de Dengue, da SMS, Uberaba está com 15.905 casos prováveis e destes, 2.406 foram confirmados, além de 13 vítimas fatais e 9 óbitos em investigação.
Sorotipos mais agressivos e novo cenário epidemiológico – A preocupação dos profissionais da saúde não se limita aos números absolutos. O que chama a atenção é o retorno do sorotipo 3 da dengue, que não circulava com força no Brasil há mais de 15 anos. Essa variante tem potencial para causar quadros clínicos mais severos, sobretudo em pessoas que já foram infectadas anteriormente, o que aumenta a probabilidade de complicações. No estado paulista, 72% dos registros em 2025 estão associados a esse tipo.
Até agora, o sorotipo 3 foi identificado em pelo menos 11 estados: Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Pará, Roraima, Maranhão, Piauí e São Paulo — este último considerado o mais crítico devido à alta densidade populacional e à concentração de 73,4% dos diagnósticos.
Além disso, foram detectadas ocorrências do tipo 4 em território paulista — outro fator que contribui para o agravamento do cenário. A presença simultânea dessas variantes aumenta o risco de surtos mais intensos e tem impacto direto na taxa de letalidade.
Vacinação ainda enfrenta resistência – Desde o ano passado, o Ministério da Saúde vem aplicando o imunizante em crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, nas regiões com maior risco. No entanto, a adesão segue abaixo do esperado. Em municípios como Ribeirão Preto (SP), apenas 36,6% do público-alvo recebeu a primeira dose, e a taxa de retorno para a segunda, prevista três meses após a inicial, é ainda mais preocupante, com cobertura de apenas 16%.
No Paraná, a campanha foi estendida a 218 municípios, incluindo Curitiba, Londrina, Maringá e Cascavel. Apesar da disponibilidade, a ação esbarra na desinformação e na desconfiança de pais e responsáveis. O impacto dessa baixa cobertura já pode ser observado na elevação das internações e no aumento das complicações decorrentes da doença.
A médica pediatra do Departamento de Saúde Escolar dos colégios da Rede Positivo, Andrea Dambroski, reforça que a vacinação é uma das principais estratégias no controle da enfermidade, especialmente entre o público infantojuvenil. “A imunização é uma ferramenta crucial na prevenção da dengue. Além de reduzir o risco de transmissão, ajuda a evitar formas mais sérias da doença e contribui para a proteção coletiva”, destaca.
A médica também enfatiza a relevância das medidas cotidianas de proteção, que dependem exclusivamente das famílias — como evitar o acúmulo de água em áreas externas. O mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, prolifera em locais com água parada. “É fundamental eliminar criadouros, usar repelentes, manter caixas d’água bem vedadas e não acumular lixo. Essas ações simples fazem grande diferença na contenção dos focos”, afirma Andrea.
Em caso de suspeita, a recomendação é atenção redobrada aos sintomas e busca imediata por atendimento. “Febre alta, dores no corpo, dor atrás dos olhos e manchas vermelhas na pele são sinais de alerta. Diante desses indícios, procure um posto de saúde para diagnóstico e tratamento adequados”, orienta. “A conscientização da população, o fortalecimento das campanhas públicas e a adesão ao imunizante são fundamentais para evitar uma nova escalada da epidemia”, completa.
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