Tecnologia que mata e cria empregos

Os recentes avanços tecnológicos impuseram ao ser humano um mercado de trabalho repleto de promessas, mas também de desafios. Carros que dirigem sozinhos, algoritmos que respondem a consultas de atendimento ao cliente e até máquinas que simulam pensamentos e ações humanas (neste caso a inteligência artificial), são só alguns exemplos de novas e poderosas tecnologias. No entanto, mesmo que essas tecnologias aumentem a produtividade e melhorem nossas vidas, seu uso irá substituir atividades que os trabalhadores realizam atualmente, uma ameaça que tem despertado muita preocupação pública. Mas, assim como na Revolução Industrial (entre os séculos XVIII e XIX) em que a mecanização começou a substituir o trabalho manual na agricultura e na indústria, acredito que novas portas irão se abrir para o trabalhador com o surgimento de outros tipos de ocupações.

Nessa onda tecnológica, a minha opinião segue a máxima do químico e físico francês Antoine Lavoisier de que “na natureza tudo se transforma”. Também no mercado de trabalho tudo se transforma.

Basta analisar... Os últimos anos foram meio conturbados para o mercado de trabalho. Primeiro foi a pandemia de COVID-19, uma reviravolta sem igual na vida pessoal e profissional, pois, foi desde a pandemia que cerca de 90% das organizações instituíram um modelo de emprego híbrido que permite aos funcionários trabalharem remotamente por pelo menos parte do tempo. E mais recentemente, a ascensão da IA e da automação que deve remodelar, mais uma vez, a relação emprego/trabalho.

Esse tipo de evolução já aconteceu e citei o caso da Revolução Industrial ocorrida mais ou menos entre os anos 1760 e 1840. Nesse período, embora a mecanização tenha reduzido substancialmente o trabalho manual e, inicialmente, causado a perda de empregos em funções tradicionais, também impulsionou o crescimento de novas indústrias que passaram a necessitar de mais trabalhadores, levando à urbanização e à criação de empregos na indústria, construção e transporte. Além disso, a necessidade de manutenção e operação de máquinas criou categorias de empregos inteiramente novas.

Outra revolução no mercado de trabalho que posso dar como exemplo é a Revolução Digital que muitos devem lembrar, pois aconteceu no final de século XX, marcada pelo advento dos computadores e da internet, o que revolucionou a forma como as empresas operam e se comunicam. Se por um lado essa revolução digital levou ao declínio de certos empregos administrativos e de escritório, por outro, também deu origem ao setor de tecnologia da informação. Desenvolvimento de software, engenharia de prompt de IA, segurança cibernética, marketing digital e análise de dados são apenas alguns exemplos das novas áreas que surgiram, oferecendo emprego a milhões de pessoas em todo o mundo.

Enfim, toda vez que uma nova tecnologia é introduzida, surge um intenso debate sobre se ela vai ou não eliminar empregos. Mas, considerando os exemplos históricos citados acima, fica evidente que a automação substituiu muitos trabalhos manuais e repetitivos e que as tecnologias da informação aprimoraram significativamente os processos de fabricação, alcançando níveis mais elevados de eficiência e qualidade. Aliás, com os avanços em Analytics e inteligência artificial, a automação agora faz parte do processo de tomada de decisão. Mas isso significa que as tecnologias avançadas ameaçam postos de trabalho? A resposta é não. No caso, a automação visa principalmente tarefas repetitivas e trabalhosas, enquanto empregos que envolvem inovação e tarefas cognitivas não rotineiras permanecem seguros.

Resumindo, os empregos têm uma natureza mutável. Ou seja, pessoas com habilidades manuais podem ser desempregadas no futuro, à medida que o toque humano se torna obsoleto. A Inteligência Artificial e as tecnologias relacionadas perturbam os mercados de trabalho, fazendo com que alguns empregos desapareçam enquanto outros surjam. No entanto, ao que parece é que o efeito percebido é que o número de empregos criados é maior que o de perdidos. Os empregos de hoje não existiam há alguns anos. A tecnologia está mudando a natureza dos empregos, não os destruindo. A questão não é proteger empregos, é de adaptação. É ajudar os trabalhadores a desenvolverem as habilidades necessárias para as funções que estão surgindo.

Acredito ser um grande equívoco dizer que a tecnologia elimina empregos. Ao contrário, ela muda a natureza dos empregos e cria novas oportunidades. Um bom exemplo foi a ascensão de plataformas de comércio eletrônico como Amazon, Alibaba Group e eBay que transformou o varejo, transferindo os hábitos de compra dos consumidores de lojas físicas para marketplaces online. Essa transformação não só criou milhões de empregos em armazenagem, logística e atendimento ao cliente, como também impulsionou o crescimento de pequenas empresas que agora podem alcançar um público global.     

Assim sendo, a solução é se adaptar, adquirir as habilidades necessárias e aproveitar o poder da tecnologia para melhorar o nosso mundo. Assim, podemos garantir um futuro em que os avanços tecnológicos beneficiem a todos, criando um lugar melhor para viver, trabalhar e prosperar.