A crise democrática aberta com os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 continua rendendo desdobramentos, e agora com protagonistas deixando o país em meio a investigações.
A deputada Carla Zambelli (PL-SP), que gravou vídeo nas redes sociais direto da Itália, praticamente confessou sua fuga do Brasil. A "confissão" pública não passou despercebida. O Supremo Tribunal Federal, por meio do ministro Alexandre de Moraes, inicialmente decretou sua prisão preventiva e agora determinou a prisão imediata para cumprimento da pena, incluiu seu nome na lista da Interpol e autorizou o bloqueio de bens e a suspensão do pagamento de seu salário parlamentar pela Câmara, e o Presidente da Câmara dos Deputados Hugo Mota já afirmou que a mesa vai decretar a perda do cargo da deputada.
A situação de Zambelli contrasta com a de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que também deixou o país recentemente rumo aos Estados Unidos. Embora ainda não haja mandado de prisão contra ele, a saída ocorre em um momento de forte avanço nas investigações que apuram a participação de parlamentares, militares e assessores próximos ao ex-presidente Jair Bolsonaro na tentativa de golpe. Contra Eduardo têm pesado alegações de sistemáticas tentativas de influenciar autoridades americanas contra o governo brasileiro, o que vem sendo considerado pelo público nas redes sociais, como atos de traição contra o Brasil.
A narrativa adotada pelos dois é semelhante: alegações de "perseguição política" e tentativas de deslegitimar as instituições democráticas. Segundo o especialista em direito eleitoral Wallyson Soares, essa retórica já não encontra a mesma ressonância internacional de antes: "Há uma tentativa de transformar investigados em mártires da liberdade de expressão. É uma inversão perversa da lógica democrática: quem atenta contra as instituições agora tenta se colocar como perseguido por elas", afirma o advogado.
A movimentação de Zambelli e Eduardo Bolsonaro pode não ser pontual: "o que está acontecendo é sintomático. Há uma clara tentativa de ganhar tempo, espaço e apoio internacional antes que novas medidas restritivas sejam aplicadas. A própria figura de Jair Bolsonaro deve seguir esse mesmo roteiro, o que ainda não ficou claro é se o ex-presidente vai arriscar uma fuga semelhante à de Zambelli após a reação de alguns parlamentares italianos", esclarece Wallyson.
Especialistas acreditam que Bolsonaro não chegará a tanto, e isso encontraria explicação em seu eleitorado. Longe do contato direto dos apoiadores e fã-clube, a chama poderia esfriar, e a pressão exercida pela campanha eleitoral às portas, se transformar em vantagem para Lula.
Enquanto isso, o cenário aponta para uma possível reação institucional ainda mais dura. O STF pode ampliar o uso de medidas preventivas, como bloqueio de passaportes, reforço no controle de fronteiras e acionamento de organismos internacionais. A prisão de Zambelli é, na prática, um aviso: o Judiciário está atento e disposto a agir diante de tentativas de fuga ou obstrução da Justiça.
"Essas ações não são apenas simbólicas. Elas têm um efeito jurídico e político importante. A Corte está diante de um desafio: manter a credibilidade do processo judicial e garantir que os acusados respondam pelos seus atos em solo nacional", avalia o advogado eleitoral.
Quem mais pode fugir? – Segundo Wallyson Soares, o padrão se repete entre os investigados mais próximos de Bolsonaro, que já viveram ou mantêm vínculos com outros países. Ele cita nomes como o almirante Almir Garnier Santos, o ex-comandante da Marinha com mestrado nos EUA , o general Augusto Heleno, que comandou a missão da ONU no Haiti e tem relações estreitas com os Estados Unidos, e Felipe Martins, ex-assessor internacional de Bolsonaro, com formação em Relações Internacionais pela UnB e laços públicos com figuras como Donald Trump.
Com a proximidade das condenações, a tendência, segundo o especialista eleitoral, é que haja articulações discretas para novas tentativas de fuga.
Cenário internacional e asilo político – Uma dúvida persiste: parlamentares como Zambelli e Eduardo Bolsonaro conseguiriam asilo político? A resposta, segundo juristas, é improvável. Para que um pedido de asilo seja aceito, o país de destino precisa reconhecer que o requerente está sendo perseguido politicamente: "Para que um pedido de asilo prospere, é necessário provar que o sistema judicial está comprometido ou sendo usado para fins autoritários. O Brasil, até aqui, tem demonstrado o oposto: está investigando crimes contra a democracia com amparo legal, transparência e sob supervisão institucional", conclui o advogado.
Ao tentar escapar da Justiça, Zambelli não apenas compromete sua própria defesa, mas também lança luz sobre um padrão: o de investigados que recorrem a subterfúgios internacionais para evitar responder por seus atos.
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