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Crianças e jovens não estão seguros nem dentro do próprio quarto: o perigo silencioso das redes sociais

É preciso monitorar as redes sociais dos menores de idade para saber que tipo de conteúdo estão consumindo e mitigar a prática de crimes que colocam em risco a vida e a integridade das vítimas, garantindo a segurança física e emocional de todos.

03/07/2025 05h02 Atualizada há 2 semanas
Por: Eloá Caixeta
Crianças e jovens não estão seguros nem dentro do próprio quarto: o perigo silencioso das redes sociais

Ao contrário de alguns anos atrás em que certos tipos de violência eram facilmente percebidos diante dos olhos atentos dos adultos, hoje em dia existe um novo tipo de violência que pode facilmente passar despercebido e causar um estrago enorme: o uso da internet, por crianças e adolescentes, sem a devida supervisão de seus pais ou responsáveis.

Foi noticiada essa semana a existência de uma quadrilha de aliciamento de jovens mulheres (entre 11 e 19 anos) que age por meio das redes sociais. Composta por homens jovens - sendo o mais novo, até então, com 24 anos -, eles se aproximam da vítima, conquistam sua confiança e até simulam interesses amorosos para, então, pedir fotos e vídeos íntimos. Após o envio dessas fotos e vídeos, as jovens são ameaçadas de terem os conteúdos vazados e assim são obrigadas a participar de “desafios” que envolvem várias formas de violência e, dentre elas, a automutilação.

Os “desafios” são degradantes e possuem uma única finalidade: a de fazer com que essas jovens mulheres sejam extremamente humilhadas. Automutilação, escrever o nome dos homens em partes de seus corpos, sacrifícios de animais de estimação, introdução de objetos em seus corpos.

As violências praticadas eram filmadas e aconteciam em “lives” no aplicativo Discord rede social popular entre jovens para conversas e transmissões ao vivo e que é muito utilizada para prática de crimes. Durante a operação, foram apreendidos computadores e equipamentos eletrônicos contendo mais de 200 mil arquivos de fotos e vídeos.

Fernanda Fernandes, uma das delegadas envolvidas na investigação que já conta com 5 suspeitos presos, deu uma entrevista dizendo o seguinte:

"Os vídeos são muito fortes. São vídeos com conteúdo misógino e racista, com xingamentos. Foram inúmeras violências praticadas ali. Eles também exigiam sacrifício de animais que essas vítimas tinham. Porque o objetivo era que elas sofressem muito. Nada era suficiente".

“É um grupo criminoso misógino que visava humilhar meninas e mulheres através de violência psicológica, violência física e violência sexual. Tudo virtualmente”, explicou.

As prisões demonstram que apesar de esses criminosos agirem por perfis falsos, é possível que sejam rastreados e identificados. É preciso DENUNCIAR!

Um dos pontos que me chamaram muito a atenção é o fato de esse grupo de criminosos ser composto por homens tão jovens e já tão misóginos – já que o grupo lança “desafios” que têm como objetivo humilhar mulheres. Esse fato vai ao encontro da recente divulgação da pesquisadora inglesa Laura Bates que revela que pela primeira vez na história o machismo é maior entre os homens jovens, sendo impulsionado por redes sociais e inteligência artificial.

A série da Netflix “Adolescência”, que chocou os telespectadores ao escancarar a existência de um movimento chamado incel. O termo vem de “celibatário involuntário” (do inglês “involuntary celibates”), porque descreve, a princípio, meninos que se sentem incapazes de ter um relacionamento amoroso, mesmo querendo se envolver com alguém. Com o tempo, a definição ganhou um contorno de ódio às mulheres.

De acordo com Bruna Camila, doutora em sociologia e pesquisadora de gênero e misoginia:

“Geralmente, o incel é um menino jovem, ligado à internet, que é tímido e inseguro, além de ter dificuldades de socializar. Ele fica ressentido e culpa as meninas e as mulheres”, explica Camilo. “Na mentalidade deles, são elas que os excluem da sociedade.”

Ou seja: o discurso incel é fundamentado na ideia de que as mulheres devem ser punidas, já que são as responsáveis por todas as frustrações amorosas e sexuais sofridas pelos homens.

Cada vez mais os homens jovens estão sendo influenciados por esses discursos que estão consumindo com grande frequência por meio das redes sociais. À medida que eles se nutrem desses conteúdos de violência contra a mulher, passam a verdadeiramente acreditar naquilo, se tornando capazes de cometer violência de gênero, colocando vidas em risco, e o exemplo concreto disso é a existência da quadrilha citada no início desse texto.  

Sendo assim, é de extrema importância que os adultos MONITOREM a atividade de seus filhos nas redes sociais. É necessário que saibam o que eles estão consumindo de conteúdo. Além disso, é importantíssimo que também SE EDUQUEM para que consigam educar seus filhos nas questões de gênero.

O monitoramento é importante para que possa ser evitado que os filhos se tornem vítimas ou até mesmo criminosos.

Mas, de forma prática, como pode ser realizado o monitoramento das redes sociais?

Com relação ao Discord, segue abaixo o passo a passo a ser realizado para que haja o monitoramento:

  1. Para ativar a ferramenta, é necessário que você tenha o aplicativo Discord no celular.
  2. No aplicativo, você vai acessar a opção "Central da Família", que pode ser encontrada em "Configurações do usuário".
  3. Então, clique em "ativar Central da Família".
  4. Nessa etapa, o adolescente vai precisar fornecer a você o código QR que será gerado no aplicativo dele. Ele fica disponível na guia da "Central da Família", na opção "Conectar com o pai".
  5. Você deve escanear o código fornecido pelo seu filho com seu aplicativo Discord.
  6. Depois que o adolescente aceitar a conexão, os dois terão acesso total à Central da Família.

 

Com relação às demais redes sociais, vou deixar alguns links que irão direcioná-los(as) para conteúdos que irão demonstrar como ativar nelas o monitoramento parental:

Concluo esse texto com a esperança de que o conteúdo aqui contido possa ser acessado pelo maior número de pessoas possíveis, pois é URGENTE o monitoramento das redes sociais, a educação de gênero – tanto no âmbito familiar quanto no escolar -, e a segurança que os pais precisam cultivar no jovem para que ele possa ter a confiança de compartilhar com eles sobre fatos que os colocam em risco a vida e a integridade física.

Conversem com seus(as) filhos(as), sobrinhos(as), netos(as), afilhados(as), jovens próximos. Conversem com outros pais, com outros adultos. A informação e o diálogo são essenciais.

O dever de proteger as crianças e adolescentes é de todos nós!

 

Eloá de Azevedo Caixeta é escritora, advogada em direito digital e proteção de dados pessoais, membra do jurídico da ONG "Eu Quero Contar" e entusiasta de estudos sobre gênero. 

Contato: [email protected]

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