Seis pacientes dos 18 que chegaram em Uberaba no dia 24 de janeiro para tratar da covid-19, no Hospital Regional José Alencar, estavam com a nova variante do coronavírus, a P.1, derivada de uma das variantes predominantes no país, a B.1.1.28, segundo o resultado dos exames enviados a Fundação Ezequiel Dias (Funed). A nova linhagem contém uma composição única de mutações, que ocorrem principalmente na proteína spike, responsável pela entrada do vírus nas células humanas.
O resultado do exame foi encaminhado para a Secretaria Municipal de Saúde pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), no dia 16, ou seja, seis dias após os últimos dois manauaras terem alta e voltarem para suas casas –11 de fevereiro.
“Por meio do sequenciamento genético, realizado no Laboratório Central de Saúde Pública de Minas Gerais (Lacen-MG), da Fundação Ezequiel Dias (Funed), foi detectada, em seis pacientes, a presença da nova variante do coronavírus”, informou a Prefeitura de Uberaba.
Dos seis pacientes manauaras identificados com a nova variante do Sars-CoV-2, detectada no Amazonas, quatro são homens e duas mulheres e somente uma paciente de 62 anos conseguiu sobreviver. Dos 18 pacientes de Manaus acolhidos no Hospital Regional, oito morreram, sendo que cinco deles apresentaram a variante do coronavírus. Dez recuperaram da doença.
Desde quando deram entrada no hospital os pacientes foram mantidos em área isolada, pois já havia a suspeita que entre eles pudesse estar presente a nova cepa do vírus. De acordo com o médico infectologista Guilherme Henrique Machado, quatro servidores do HR que tiveram contato com os pacientes de Manaus, e que estavam com suspeita da covid 19, foram colocados em isolamento. Após o exame, dois testaram positivo no PCR e o hospital solicitou a análise do material, mas não há resultado até o momento. Todos tiveram a forma leve da doença. Dois, inclusive, já retomaram a rotina diária.
“Mensagem encaminhada via ofício pela Secretaria de Saúde de Minas Gerais para a Secretaria Municipal esclarece que o monitoramento genético do coronavírus está sendo realizado pelo Lacen-MG e, até o momento, não é possível afirmar que a nova variante P1 está em circulação no estado de Minas Gerais”, diz a prefeitura, acrescentando que nos 17 dias que Uberaba esteve com os pacientes manauaras, não receberam nenhuma visita de algum familiar e não circularam pela cidade.
Variante P.1 gera preocupação de aumento na transmissibilidade
Várias cidades iniciaram o alerta para o risco de colapso no sistema de saúde com o aumento de casos devido às novas variantes do vírus, como em Manaus. Para o especialista professor Dr. Euclides Matheucci, diretor científico e co-fundador do laboratório de biotecnologia, DNA Consult, que produz testes diagnósticos para o vírus Sars-CoV2, mesmo que as variantes não tenham sido confirmadas em outras cidades, é possível que elas já estejam circulando em todo o país. O professor também alerta sobre os riscos maiores de transmissão.
Se o exame confirmou a cepa em seis pacientes manauaras, é provável que o vírus esteja circulando em Uberaba. Por coincidência, após a chegada dos manauaras a curva com os casos no município e ascendente.
“É muito provável que a cepa de Manaus já esteja circulando em todo o país e isso trará problemas muito sérios para todos nós. Há evidências que sugerem que algumas das mutações na variante P.1, detectada em Manaus, podem afetar a transmissibilidade e perfil antigênico, o que pode comprometer a capacidade dos anticorpos gerados por uma infecção natural anterior ou por vacinação de reconhecer e neutralizar o vírus. Um estudo recente relatou um conjunto de casos em Manaus em que a variante P.1 foi identificada em 42% dos espécimes sequenciados no final de dezembro. Nesta região, estima-se que aproximadamente 75% da população tenha sido infectada com Sars-CoV2 em outubro de 2020. No entanto, desde meados de dezembro, a região observou um aumento de casos. O surgimento desta variante levanta preocupações sobre um potencial aumento na transmissibilidade ou propensão para a reinfecção de indivíduos por Sars-CoV-2”, afirma Matheucci.
O especialista também explica que os métodos diagnósticos são determinantes para descobrir as novas variantes, reforçando que o melhor método é o PCR em tempo real que possui análise simultânea dos genomas do vírus.
“É importante comentar sobre a eficiência do PCR Tempo Real no diagnóstico das diferentes variantes. Esta metodologia é indicada pelo CDC, OMS e Anvisa, onde são analisados simultaneamente dois segmentos do genoma viral. A maioria dos laboratórios têm trabalhado com o PCR analisando apenas um segmento do genoma viral. Uma publicação científica recente mostra que a análise de 10.022 genomas do Sars CoV-2 revelou 5.775 variantes distintas. Isso significa que a análise de apenas uma sequência do genoma viral é altamente perigosa e pode resultar em laudos falsos negativos. A qualidade do diagnóstico é muito importante neste momento”, acrescenta Euclides.
Vale lembrar que especialistas afirmam que a nova cepa brasileira, chamada de P.1, foi elencada junto com as variantes descobertas no Reino Unido e na África do Sul como uma potencial forma mais contagiosa do vírus. Segundo os últimos dados divulgados pelo Ministério da Saúde, na última sexta-feira (12), o Brasil contava com cerca de 170 casos da P.1 em dez estados da federação.
A P.1 também já foi detectada em diversos países além do Japão e do Brasil. De acordo com a agência italiana de notícias Ansa, Reino Unido, Itália, Alemanha, Coreia do Sul, Irlanda, Índia, Canadá e Holanda são alguns dos países que já registraram casos positivos de infecções pela P.1.
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