Arahilda Gomes Alves
Assim como há curiosidade em saber quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha, a motivação, nas aulas de Canto Coral, ao contar sobre o histórico do nosso Hino Nacional, era colocada na sala, interrogando: quem nasceu primeiro, a letra ou a música do nosso hino? Às vezes, escrevia na lousa o primeiro verso invertido, como era de praxe na época e deixava-os decifrar onde estaria o sujeito: Ouviram do Ipiranga/As margens plácidas /de um povo heroico, o brado retumbante.
Tudo isso para que a classe cantasse nosso Hino com arte e civismo. No primeiro caso contava sobre o hino vencedor de Leopoldo Miguez e Medeiros e Albuquerque, que nos albores da República, fora o hino escolhido em concurso. Cabecinhas ávidas, curiosamente, faziam perguntas, as mais inusitadas. Por que não fora conservado? Será que em todo concurso, vencedores são escolhidos por antecipação? A História o renegou pelas metáforas, poema de difícil entendimento? Mas o tempo o consagrou...
Necessário, como dissera no início desse honroso trabalho de pesquisa, que uma diretora de Escola me alertara a troca de letra do hino que compusera para sua Escola, por estarmos em outros tempos, achando-o obsoleto!
Narrando: a música de Francisco Manoel composta na abdicação de Pedro I em 1830 permaneceu por cem anos e as letras eram adaptáveis de acordo com os fatos a serem exaltados. Marechal Deodoro da Fonseca, no período republicano (1889) abriu concurso para escolher o que viria a ser nosso Hino Nacional, como dissera acima. Mas, o júri preferia o velho hino, quando Osório Duque Estrada adaptou a letra que conhecemos à bela música de Francisco Manoel.
E o que decidiram com o hino vencedor em concurso? Passou a ser nosso Hino à Proclamação da República, perfeito na sua estrutura sonora e poética: Seja um pálio de luz desdobrado/Sob a larga amplidão destes céus...
Lástima, ouvir nosso hino cantado, cheio de vícios de linguagem e de entonação. Colocam: braços fortes, no plural, a preposição de um sonho, por que na segunda parte existe o: Brasil, de amor eterno...Só associar que, na parte um, sonha-se e na parte dois, vem o amor...
Na sua execução cantada, conforme decreto, obriga-se a cantar as duas estrofes, que, acredito, não voltar à outra parte, com a introdução. (Afinal o que se chama de Introdução, traz sentido de que já fora iniciado) O que muitos interpretam repetir tudo, na integra, o que discordo. Que se faça a letra do canto completo e na tonalidade adaptável à voz (Fá maior). Mas, se só orquestrado, executa-se somente a primeira parte em tonalidade brilhante de Si bemol.
Explanando sobre nosso Hino Nacional, numa formatura do SESI, um aluno veio a mim concluindo: Agora gostarei de cantar o Nino Nacional!
E você descobriu o sujeito nessa oração invertida? ” Ouviram, do Ipiranga, as margens plácidas/De um povo heroico, o brado retumbante. ”
Observe: as margens plácidas, não tem crase...E o verbo- ouvir - está no plural.
Na ordem direta: As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante, de um povo heroico...
Arahilda Gomes Alves - Cadeira 33 ALTM; vice-presidente -2ª-gestão; membro Academia Poetas Portugueses e Academia Letras e Artes Portugal; cônsul Poetas Del Mundo; Academia Internacional do Brasil; diretora cofundadora Fórum Articulistas de Uberaba e Região. Partícipe Rede Sem Fronteiras; sócia Poemas à Flor da Pele. Dois pr imeiros lugares em Contos (R.S) e Feira do Livro (México). Crônica (2018). Escreve crônicas no JU desde 1993.
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