A calamidade que o estado do Rio Grande do Sul vem enfrentando vitimou milhares de animais e, assim como com os humanos, os cuidados com eles vão além da saúde física e dos primeiros socorros e devem se estender por semanas.
Logo após o resgate, a prioridade é estabilizar os sinais vitais. A grande maioria dos animais permaneceu dias sem alimentação e água e expostos à chuva e ao frio, o que gera quadros de desidratação, hipoglicemia e hipotermia. O tratamento varia conforme a gravidade do caso, mas geralmente envolve o aquecimento do pet e a fluidoterapia intravenosa para equilibrar os sinais vitais, acrescida de glicose e potássio caso o animal tenha dificuldades na ingestão ou absorção de alimentos.
Assim que os animais são estabilizados é preciso tomar as medidas preventivas básicas, considerando a exposição que tiveram à água e por estarem em ambientes coletivos. “O controle parasitário – pulgas, carrapatos e vermes – é primordial e básico para a recuperação da saúde. Medicamentos de ingestão oral trazem resultados mais rápidos e a colaboração de empresas e doadores tem sido essencial. Já a recuperação da imunidade se dá conforme o animal volta a receber uma alimentação de qualidade”, comenta o médico-veterinário e diretor de operações da VetFamily Brasil, Dr. Fabiano de Granville Ponce.
Em relação às doenças infectocontagiosas, o veterinário ressalta a importância da quarentena para observação e tratamento imediato, caso o animal apresente doenças como cinomose, parvovirose ou, principalmente, leptospirose.
Dicas para adoção de animais resgatados
Em toda adoção é necessário que o adotante tenha em mente que se trata de uma responsabilidade para alguns anos e deve ter consciência de que um animal demora dias ou semanas para se familiarizar com um novo lar.
Saúde mental e emocional dos pets
“Esta é uma tragédia em proporção inédita para todos nós. Vimos imagens de animais que, mesmo após o resgate, continuavam a executar os movimentos de natação ou subiam nos telhados das casinhas dos abrigos. Nós, médicos-veterinários, temos o desafio de diagnosticar a proporção desse trauma emocional e observar como reagem nos dias subsequentes”, relata o veterinário, ressaltando que medidas como muito carinho, abrigo seguro, acolhimento, paciência e calma ao lidar com esses animais são essenciais. Não há um tratamento específico preconizado, mas medicamentos já prescritos para controle de fobias podem colaborar, além do acompanhamento veterinário e de um comportamentalista.
O poder das comunidades
A preocupação com a saúde mental não se restringe aos animais e aos humanos vítimas das enchentes: os profissionais atuando na linha de frente também sofrem as consequências tristes das tragédias, especialmente quando não têm sucesso em algum resgate ou tratamento. “Somos solidários a todos os nossos colegas que estão atuando de forma direta ou indireta, grande parte pela primeira vez numa situação desse nível. É realmente emocionante constatar o desprendimento, a coragem e a empatia dos médicos-veterinários nesse momento, atuando não somente com os animais, mas colaborando com toda a sociedade”, declara o médico-veterinário, Head Latam e Diretor-Geral da VetFamily no Brasil, Henry Berger.
A VetFamily, comunidade internacional criada por médicos-veterinários para desenvolver o setor, tem como um de seus objetivos fomentar o networking e a colaboração entre seus pares e acompanha diariamente, em seus canais de comunicação, os relatos e as trocas de informações entre membros e executivos da comunidade, seja com dados, protocolos de atendimento e apoio das mais diversas formas.
A tragédia também destacou a relevância da relação entre pets e tutores, a importância da atuação de voluntários e profissionais de todas as áreas, o poder das ações coletivas e a necessidade de prevenir e cuidar da saúde física e emocional de todos, incluindo os animais. “Esperamos que para o futuro, esses aprendizados, o olhar cuidadoso com os animais e a valorização dos médicos-veterinários reflitam de forma positiva no segmento”, finaliza Berger.
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