Olá, leitorxs!
Hoje vamos falar sobre um termo que tem sido muito comentado em debates sobre relações afetivas e sexuais: o heteropessimismo. Vocês já escutaram esse termo? Talvez não, mas quando eu trouxer a definição, muitas leitoras vão se identificar com esse sentimento.
O heteropessimismo é um sentimento de decepção, constrangimento ou desespero com o estado das relações heterossexuais – especificamente sobre estar em uma. É uma decepção generalizada, ambivalência, se não dúvida, sobre a qualidade das experiências heterossexuais vividas. E essa sensação vem muito da percepção generalizada de que muitos homens não conseguiram acompanhar a evolução social feminina, eles seguem se relacionando sem nenhuma responsabilidade afetiva e perpetuando o machismo, sem ao menos questioná-lo.
Vale lembrar que nem eu, nem todas as mulheres que estão discutindo sobre o assunto estamos falando de todo homem hétero. Mas, também não se trata de exceções, é algo social e coletivo. Demorou, mas o modelo de relacionamento em que os homens aprendem sobre relações assistindo filmes pornôs e as mulheres escutando contos de fadas está ruindo. Enquanto as mulheres foram muito bem treinadas para falar de seus sentimentos, os homens estão em desvantagem, porque a capacidade de elaboração emocional de um homem hétero é muito precária, já que eles não se propõem nem ao autoconhecimento.
Mas, e agora? O que vem depois dessa percepção? Para as mulheres lésbicas nada mudou, as mulheres bissexuais têm investido mais em relacionamentos afetivos sérios com outras mulheres, mas e as mulheres heterossexuais/heteroafetivas? Bom, algumas têm identificado a heterossexualidade compulsória e têm se permitido explorar e experimentar mais, mas muitas delas são realmente heterossexuais/heteroafetivas, e apesar de vira e mexe soltarem que nunca mais vão se relacionar com homem nenhum depois de uma experiência ruim, no fundo, querem encontrar um parceiro.
E, embora o conceito de heteropessimismo seja útil para aumentar a conscientização sobre um problema cultural duradouro, o pessimismo não pode ajudar a resolvê-lo. Precisamos de outras visões para a heterossexualidade, além de uma tragédia anunciada.
Para quem gosta de sexo e de se relacionar, o celibato voluntário pode ser desafiador e pouco saudável do ponto de vista psíquico. Fazer piadas ou repetir discursos de que todo homem é igual esconde um ressentimento, que não resolve o conflito e nem atende a necessidade da companhia romântica. Assim, a psicóloga e terapeuta sexual Ana Canosa recomenda se abrir para a construção de pontes e diálogos entre os gêneros – sabendo que não há uma alternativa fácil e sem desconforto.
Apostar nas relações heterossexuais é ter consciência de que ela exigirá conversas honestas sobre feminismo, masculinidade tóxica, violência de gênero e sexualidade. São séculos em que as expressões de gênero estavam dentro de caixas muito estabelecidas e isso é um fantasma que está presente o tempo todo. Assim como a mulheridade é fruto de um desenvolvimento histórico e cultural e está em constante evolução, a masculinidade também pode se transformar, desde que os homens queiram e se responsabilizem por isso.
O que pode ser uma boa aposta é a intenção de um diálogo, de uma construção conjunta. Se as mulheres estão aprendendo a ser assertivas e a compreender relações tóxicas, os homens que se relacionam com elas também estão aprendendo essas coisas. Alguns estão a fim, outros não, a melhor opção é dialogar com os que estão a fim.
Dessa forma, ainda que a desesperança em relação ao futuro seja um processo ruim, o heteropessimismo ainda diz respeito a mulheres que acessam, em alguma medida, a ideia de que podem ter alguém, desde que essa alguém esteja disposto e aberto à uma evolução pessoal e social.
Obrigada e até semana que vem!
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