Esses dias me peguei pensando sobre como cada despedida é um “olá”, de alguma forma. Me vejo, às vezes, em lugares que não me cabem mais, tanto internos como externos, com pessoas que não condizem mais com as minhas aspirações e, até mesmo, presa em memórias do que poderia ter sido coisas que nem são mais. Quando me percebo assim, me sobe um medo misturado com dúvida de quais os próximos passos que eu vou dar ou qual direção devo seguir, mas, foi nessas sensações, que me vi pensando: “E as possibilidades? E os novos ‘olás’ que estão por vir?”
Nessa virada de chave, eu pude perceber que estamos acostumados demais a esperar (e desejar) a permanência e a constância de tudo que nos rodeia, inclusive do que é impossível de controlar. Esse movimento de querer a qualquer custo impedir que o fluxo das coisas e da vida aconteça, muitas vezes, nos gera uma angústia, um sentimento de inadequação tremenda misturado com ansiedade. Nos estágios de clínica, percebo muito como é na prática essa “luta” interna entre o que se espera fortemente, sem reflexão/ o que deveria ser (esse desejo de manter-se fixo) e o fluido, as possibilidades, o que pode ser (o ímpeto de mover-se).
É muito curioso observar isso, não digo só na clínica, mas também em mim, como, querendo ou não, a gente se move. Seja por forças internas ou externas, sempre acabamos indo atrás de algo novo, novas experiências, sensações ou formas de agir, o que, quase sempre, resulta em uma despedida. Não pense em despedida somente de forma literal, como o ato de dar “tchau” para alguém, mas sim como uma despedida de hábitos que não te fazem bem, pessoas que não fazem mais sentido no seu contexto, aquele trabalho que não rende mais frutos e, principalmente, de maneiras antigas de como você se vê. Sim, isso pode acontecer.
Imagine comigo, você está em um corre gigante para se autoconhecer, fazendo terapia, praticando meditação, entrando em contato com a natureza, consumindo arte, criando novos hábitos, etc. mas quando alguém aponta isso, você pensa: “O que?eu? Como assim mudei? Ainda não sou aquela que eu era antes?” “Como assim eu já não pertenço mais naquele lugar de angústia e medo?” “Como assim eu já não me sinto pequena diante de novos desafios?” “Como assim eu consegui investir em mim?” Como se tudo isso fosse feito por alguém fora de você e não por você mesmo.
Conseguem associar essa sensação? Conseguem perceber que a despedida entra aqui também? A despedida do que você achou que você era, pois te contaram. A despedida do lugar interno que te ocupava e que você o ocupava e fica ali, assim, meio desconectada e inadequada. Por isso, sempre digo que de tempos em tempos precisamos nos despedir não só de coisas e pessoas que não nos cabem, mas também de parte de nós que não nos comportam como estamos agora. Peço que esteja aberto para o que pode ser, dê um “olá” para si mesmo e lembre-se: estamos, sim. Somos, nunca.
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