Olá, leitorxs!
Cá estamos em Agosto, para alguns, o mês do desgosto, mas por aqui o mês é todo voltado para o ORGULHO (19/08) e a VISIBILIDADE(29/08) LÉSBICA.
No texto de hoje, gostaria de chamar vocês para uma reflexão acerca de uma palavra muito usada nas datas de comemoração e resistência LGBTQIAPN+: a VISIBILIDADE. No dicionário, a definição de visibilidade é: “caráter, condição, atributo do que é ou pode ser visível, enxergado, percebido.” Ou seja, queridxs leitorxs, estamos lutando há anos - sem previsão de trégua - para que a sociedade nos enxergue e nos veja. Pois, quem não é visto e percebido, é atravessado, é atropelado, é ignorado e é desrespeitado.
E, quando falamos de visibilidade lésbica, estamos diante de uma luta contra dois apagamentos: o fato de ser mulher em uma sociedade machista e o de ser homossexual em uma sociedade homofóbica. Se acrescentarmos algum recorte de raça e classe social, então, a situação ainda piora muito! É como se fossem aqueles fantasmas de desenhos e filmes, sabem? Que as pessoas caminham através deles sem nem notarem.
Por isso, pessoal, que a visibilidade é o mínimo. É apenas o primeiro passo, a primeira batalha. Pois, para que possamos ter os nossos direitos reconhecidos e respeitados, precisamos existir para a sociedade, e para que possamos existir, precisamos ser enxergadas por ela. Mas, para isso, precisamos entender esse apagamento das mulheres de milhares de anos.
Bom, antes da propriedade privada, quando os seres humanos ainda eram nômades, as mulheres eram vistas como deusas por serem capazes de gerar. Eles ainda não sabiam o que levava a mulher a engravidar e que o homem tinha um papel na concepção de uma criança. Para eles, a mulher era um ser tão especial e abençoado, que tinha o dom de gerar uma vida.
Depois que os seres humanos deixaram de ser nômades e começaram a praticar a agricultura para sobreviver, que eles descobriram como se dava a concepção de um ser. Pois, ao observarem os animais que criavam, eles perceberam que o ato do coito do macho com a fêmea que gerava uma nova vida. A partir daí, o brilho da mulher foi desaparecendo.
A descoberta da participação do homem na concepção da vida, associada à necessidade do casamento para controlar a herança das propriedades privadas fez com que a mulher se tornasse apenas o meio para um fim, apenas uma peça que fazia a engrenagem da sociedade continuar funcionando. Peça, essa, que também era propriedade do homem para dar continuidade a sua linhagem, preferencialmente de filhos homens.
Mas aí você pode me dizer: “Ah, mas isso foi há muito tempo atrás!”. E aí precisamos lembrar que até 1940 existia algo que chamamos de tutela jurídica da sexualidade feminina no Código Penal brasileiro, em que os direitos sexuais das mulheres eram negados, ou seja, a mulher ainda continuava sendo apenas uma ferramenta de reprodução, pertencente ao homem. Apenas em 1988, a Constituição Federal ditou que “tanto o homem quanto a mulher são livres para fazerem suas escolhas quanto à sexualidade e reprodução.” Se passaram apenas 36 anos, o que em termos de história e transformação social, é muito pouco.
Porém, estamos falando do valor das mulheres heterossexuais pautado pela reprodução. Antes da propriedade privada, eram divindades POR GERAREM UMA VIDA E PRESERVAR A ESPÉCIE, depois disso eram necessárias PARA MANTEREM AS LINHAS DE SUCESSÕES. Mas, então, que prestígio e que utilidade uma mulher que não quer gerar um ser humano em uma estrutura familiar sem um homem tem? Nenhum, e aqui chegamos na invisibilidade da mulher lésbica.
Portanto, leitorxs, a visibilidade da mulher lésbica é o primeiro passo. Nós precisamos ser vistas, enxergadas e percebidas para que possamos lutar por mais direitos e preservar o pouco que temos. Ser mulher não pode ser resumido ao ato de perpetuar a espécie ou manobra de sucessão de herança. Continuemos na luta! Invisíveis? Não mais!
Obrigada e até semana que vem!
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