A vida é uma dança constante entre mudanças e incertezas, desafiando nossa incessante busca por controle e estabilidade. Caetano Veloso, com sua canção que nos diz “Quando você me ouvir cantar, venha não creia eu não corro perigo... Eu sigo apenas porque eu gosto de cantar”, nos lembra da importância de abraçar a imprevisibilidade. Aqui, cantar é mais do que uma simples expressão; é um convite para viver de forma espontânea e autêntica, reconhecendo a beleza que se esconde no caos e em nossa existência única.
Vivemos em uma sociedade que valoriza o planejamento e a previsibilidade, muitas vezes nos arrastando para uma tentativa incessante de controlar cada detalhe, e de nos encaixar em ideias de viver e sentir. No entanto, essa obsessão pelo controle pode acabar nos enrijecendo e nos afastando da vivência plena e rica das experiências diárias. É aqui que entra a fenomenologia, como proposta por Martin Heidegger. Ele nos sugere uma nova maneira de ver o mundo: a partir da atitude fenomenológica. Isso significa “deixar e fazer ver por si mesmo aquilo que se mostra, tal como se mostra a partir de si mesmo”. Em outras palavras, trata-se de desenvolver um olhar atento e observador, capaz de apreciar as coisas exatamente como elas são.
Quando adotamos essa lente fenomenológica, aprendemos a ver com todos os nossos sentidos e a perceber a profundidade e complexidade de cada experiência. Como nos diz a música, “Tudo vai mal, tudo, tudo é igual quando eu canto e sou mudo”. Mesmo em momentos difíceis, há uma constância paradoxal. Aceitar essa inconstância nos permite viver de forma mais plena e aberta, respondendo às mudanças com flexibilidade e receptividade.
Heidegger nos lembra que a fenomenologia não é apenas uma metodologia, mas uma maneira de viver. É sobre estar presente no momento, permitindo que cada fenômeno se revele em sua totalidade. Isso requer uma humildade essencial, uma fé nas coisas mesmas, onde deixamos que os fenômenos falem por si mesmos antes de impor nossas próprias teorias. Como diz a canção, “Meu amor, tudo em volta está deserto, tudo certo, tudo certo como dois e dois são cinco”. A vida não segue a lógica convencional, e a imprevisibilidade e as aparentes contradições fazem parte da nossa experiência humana universal.
O poeta mineiro Murilo Mendes nos lembra que “nascer é muito comprido”, sugerindo que a vida é um processo contínuo de nascimento e renascimento, de constantes transformações. Cada mudança e desvio inesperado é uma chance de crescimento e aprendizado. Resistir a essas mudanças é, na verdade, resistir à própria vida. Adotar a atitude fenomenológica é um convite para redescobrir o mundo com um senso de admiração e maravilhamento, como propõe Monticelli. É necessário despertar a capacidade de se encantar com as coisas simples e estar aberto para encontrar-se com o mundo em toda a sua plenitude. Fernando Pessoa capturou essa essência ao dizer: “Sei ter o pasmo essencial que tem uma criança se, ao nascer, reparasse que nascera deveras... Sinto-me nascido a cada momento para a eterna novidade do Mundo”. Essa abertura para o novo e inesperado é fundamental para viver plenamente.
Aceitar as mudanças e a imprevisibilidade da vida é essencial para manter a leveza e a espontaneidade. Imagine a vida como uma dança infinita, onde em vez de seguir passos ensaiados, você cria seus próprios movimentos, fluindo ao ritmo da existência. Em vez de nos endurecermos e desensibilizarmos com a tentativa incessante de controlar cada detalhe, devemos permitir que a fenomenologia nos guie. Ela nos ensina a ver o mundo com clareza e confiança, a valorizar a experiência em sua plenitude.
Em vez de resistir às transformações, aprendamos a dançar com elas, encontrando alegria e discernimento no caos que, com sua imperfeição, revela uma beleza única. Afinal, a vida é feita mais de improvisos do que de certezas. Como nos lembra a música, “tudo certo como dois e dois são cinco”, devemos abraçar a inconstância e permitir que as mudanças nos conduzam. Ao fazer isso, vivemos com autenticidade, desvendando a beleza e o significado em cada instante, que se revela único e efêmero.
Nathalí Cristina da Silva Martins Pereira
Estudante de Psicologia na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM)
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