Olá, leitorxs!
Para encerrar o mês do Orgulho e Visibilidade Lésbica com chave de ouro, gostaria de compartilhar com vocês um evento do qual participei na segunda passada, dia 19/08.
No início do mês, eu e minha namorada Ana Luiza Araújo, que é psicóloga, fomos convidadas pela Ellen Monteiro, psicóloga da Penitenciária de Uberaba, para conduzir uma roda de conversa sobre a invisibilidade de mulheres que se relacionam com outras mulheres com as reeducandas da Ala E. Fiquei muito feliz com o convite, e por poder dimensionar o alcance desta coluna e os lugares que ela me permite ocupar.
Claro que prontamente aceitamos o convite e fomos muito bem recebidas pela Ellen, quem idealizou o evento, e pelo Subdiretor de Atendimento e Ressocialização Policial Penal Eber Santos, quem viabilizou e autorizou a roda de conversa.
Pela manhã, as reeducandas foram convidadas para o evento, que aconteceu às 14 horas, no pátio da Ala E. Felizmente, contamos com a participação de 12 mulheres e pudemos ter um momento enriquecedor e de muita troca. Dividimos histórias, vivências, dores e expectativas, com a participação ativa das meninas.
A Ellen, sem medir esforços, imprimiu a matéria da coluna em que eu falei sobre a invisibilidade da mulher lésbica e distribuiu, juntamente com um conto de minha autoria, para as meninas depois poderem rever e retomar o que discutimos.
Nessa matéria, eu citei que a mulher lésbica sofre uma dupla opressão: por ser mulher em uma sociedade regida pelo patriarcado, e por ser homossexual em uma sociedade homofóbica, e ainda acrescentei que outras opressões ainda poderiam vir em virtude de outros fatores sociais, como grupos marginalizados. E quer grupo mais marginalizado e mais invisibilizado que o das pessoas privadas de liberdade?
Ali, cada pessoa é julgada(moralmente) e apagada da sociedade, sem que se considere todos os aspectos sociais ao redor daquele indivíduo. Segundo Michel Foucault, na obra A microfísica do poder:
“O problema não é mudar a ‘consciência’ das pessoas, ou o que elas têm na cabeça, mas o regime político, econômico, institucional de produção da verdade.”
Ou seja, para o filósofo, a transformação social não está somente na mudança das crenças individuais ou consciências das pessoas. Ele acredita que os regimes de verdade são criados e mantidos por estruturas mais profundas de poder, que estão enraizadas em instituições, práticas e sistemas políticos e econômicos.
Portanto, não podemos apagar uma pessoa da sociedade pelo que a sociedade mesmo causou. As leis devem ser seguidas e cumpridas, aquelas mulheres estão lá cumprindo a pena pelos crimes que cometeram, mas elas não devem receber um julgamento moral fora de um contexto social. Fala-se muito sobre a ressocialização ao invés da punição, mas o caminho ainda é longo.
Por isso, foi muito gratificante ter a oportunidade de estar com essas mulheres e ouvir suas histórias. Pois, em uma sociedade que coloca um abismo entre pessoas como eu e a Ana, e as mulheres privadas de liberdade, naquele momento nos encontramos com vivências, dores e expectativas em comum.
Além disso, tivemos presentes duas mães de filhos LGBTs, que estavam ali para se informarem, compreenderem e dividirem suas experiências. E eu não consigo mensurar a riqueza dessa troca.
Bom, eu escreveria textos e mais textos sobre cada momento dessa tarde de tanto aprendizado. Mas, como tenho que ser breve, gostaria de agradecer imensamente à Ellen Monteiro, pelo convite e por ter se dedicado tanto para idealizar esse evento, e ao Subdiretor de Atendimento e Ressocialização Policial Penal Eber Santos e sua equipe, por nos receber.
E, não poderia deixar de agradecer também às reeducandas, que nos receberam com a escuta e o coração abertos, e enriqueceram muito a nossas reflexões com suas participações. Muito obrigada!
Por fim, gostaria de deixar uma frase da Ângela Davis para reflexão:
“A prisão se tornou um buraco negro no qual são depositados os detritos do capitalismo contemporâneo.”
Obrigada pela leitura e até semana que vem!
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