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Resultados das eleições municipais apontam para 2026

Resultados das eleições municipais apontam para 2026

30/10/2024 04h00
Por: Redação
Apoio de Tarcísio de Freitas fortaleceu campanha de Nunes pela reeleição – Foto: Divulgação
Apoio de Tarcísio de Freitas fortaleceu campanha de Nunes pela reeleição – Foto: Divulgação

Eleições municipais não são "prévias" das eleições nacionais, que ocorrem sempre dois anos depois. Essa é uma máxima da ciência política brasileira, cujos estudos mostram que as disputas locais são mais sobre questões das cidades do que debates nacionais.

Ainda assim, afirmam analistas entrevistados pela BBC News Brasil, os resultados das urnas de 2024 trazem recados sobre a reorganização das forças políticas e o fortalecimento ou enfraquecimento de determinadas lideranças e partidos — fatores que podem impactar os rumos para 2026.

A BBC News Brasil mostra a seguir os possíveis desdobramentos de cinco destaques dessa eleição: o fortalecimento do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos); o êxito limitado do bolsonarismo; a dificuldade de recuperação do PT; o surgimento de um novo fenômeno na esquerda, com a reeleição expressiva de João Campos (PSB) em Recife; e a alta taxa de reeleição de prefeitos no país.

 

Tarcísio fortalecido para escolher disputa em 2026 – Apoio de Tarcísio de Freitas fortaleceu campanha de Nunes pela reeleição. Apontado como possível substituto do ex-presidente Jair Bolsonaro – atualmente inelegível – na disputa presidencial de 2026, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, saiu ainda mais fortalecido da eleição municipal, na leitura de analistas políticos que destacam a importância de seu apoio para a reeleição do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB). Ele derrotou com facilidade Guilherme Boulos no segundo turno, após ter passado aperto no primeiro, quando o concorrente Pablo Marçal (PRTB) atraiu boa parte do eleitorado bolsonarista — momento em que Bolsonaro preferiu se omitir da disputa, em vez de apoiar Nunes, mesmo tendo escolhido seu candidato a vice, o ex-policial militar Ricardo de Mello Araújo (PL). Já Tarcísio endossou cedo a candidatura de Nunes, e, quando sua ida ao segundo turno parecia ameaçada, entrou com força total na campanha do prefeito.

O fortalecimento do governador de São Paulo, porém, não é garantia de que será o nome da direita na disputa presidencial, já que ele também pode disputar a reeleição em São Paulo, em que o caminho para a vitória tende a ser menos desafiador, segundo os entrevistados. Já a disputa presidencial é vista como mais difícil, caso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteja bem para concorrer.

 

A força e os limites do bolsonarismo – Uma das marcas da eleição municipal, notam analistas, foi a consolidação da transição do PL de um partido fisiológico, que integrava o chamado Centrão (grupo de partidos que costuma apoiar governos de diferentes tendências políticas), para uma sigla ideológica de direita — processo que se iniciou com a entrada de Bolsonaro no final de 2021. Com o ex-presidente rodando o país como cabo eleitoral, a legenda elegeu 516 prefeitos neste ano, uma alta de quase 50% frente a 2020 (345). O principal destaque, porém, ficou com o bom desempenho em grandes cidades: considerando os 103 municípios com mais de 200 mil eleitores no país, o PL conquistou 16 prefeituras, sendo 4 capitais. Para a cientista política Talita Tanscheit, doutora pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e professora da Universidade Alberto Hurtado (Chile), esse resultado não deve ser atribuído apenas ao empenho de Bolsonaro. Na sua visão, o crescimento do PL nas eleições municipais reflete o aumento dos candidatos a prefeito lançados pelo partido e o forte volume de recursos que a sigla obteve para as campanhas. O PL, por ter eleito a maior bancada de deputados federais em 2022, foi a legenda que mais recebeu dinheiro do fundo eleitoral (recursos públicos).

 

PT em recuperação lenta e com dificuldade de renovação – As eleições de 2024 mostraram a dificuldade que o PT vem tendo para se reerguer após o baque sofrido com a Lava Jato — operação anticorrupção iniciada em 2014 que chegou a colocar Lula na cadeia, mas depois passou a ter seus métodos questionados, possibilitando a anulação das condenações do petista e sua eleição para presidente em 2022. Depois da Lava Jato, o número de prefeitos eleitos pelo partido caiu sensivelmente, passando do recorde de 651 em 2012 para 257 em 2016, e chegando a apenas 185 em 2020. O PT ampliou o número de prefeituras conquistadas neste ano (252), mas continuou com baixa relevância nas maiores cidades do país, conquistando apenas uma capital, Fortaleza. Para Creomar de Souza, esse desempenho reforça sua leitura de que a vitória na eleição de 2022 se deu mais pela força eleitoral de Lula do que do seu partido. Isso, acrescenta, evidencia o desafio que a sigla terá em 2026 caso o presidente, que acaba de completar 79 anos, não esteja em boas condições para disputar a reeleição. "Hoje, o plano A e B do PT é o Lula. Agora, como o partido performou mal nessa eleição, terá que buscar uma coalizão [de partidos] mais ampla na disputa de 2026 do que foi em 2022. Vai ter que fazer mais concessões, ampliar o escopo", avalia. O maior líder petista tem dado declarações ambíguas sobre sua intenção de concorrer à reeleição.

 

João Campos desponta como fenômeno da esquerda – Enquanto o PT enfrenta dificuldade na renovação quadros, o prefeito do Recife, João Campos (PSB), despontou como novo "fenômeno" da esquerda na eleição municipal, afirmam os entrevistados. Ele se reelegeu com 78% dos votos válidos, registrando votação recorde — foi a primeira vez que um prefeito teve mais de 725 mil votos na cidade. Agora, são grandes as expectativas de que o político de apenas 30 anos dispute a eleição para governador de Pernambuco em 2026. Ele é visto como um concorrente competitivo ao Palácio do Campo das Princesas, já que a governadora, Rachel Lyra (PSDB), tem amargado baixa aprovação. Segundo pesquisa Atlas Intel de agosto, ela aparece com a terceira pior avaliação entre os 27 governadores. Sua gestão foi considerada ótima ou boa por 14% dos eleitores de Pernambuco, regular, por 41%, e ruim ou péssima, por 42%. Uma parcela de 2% não opinou. "O João é a grande novidade no campo da esquerda. A grande questão é como o [Carlos] Siqueira [presidente do PSB] vai fazer essa transição [de Campos] de figura regional para figura nacional", pondera Creomar de Souza.

 

A alta taxa de reeleição e os sinais para o Congresso – A eleição municipal deste ano foi marcada por uma alta taxa de reeleição dos prefeitos — 81% dos que estavam disputando um segundo mandato, venceram a disputa já no primeiro turno, um patamar recorde. Segundo a Confederação Nacional de Municípios, esse resultado é bastante expressivo, pois "o percentual sempre esteve em torno de 60%, com exceção do ano de 2016, que — marcado por uma profunda crise política e econômica — apresentou uma taxa de sucesso de 49%". Para analistas políticos, um dos fatores por trás desse resultado é o aumento do orçamento sob controle dos congressistas. As chamadas emendas parlamentares — em especial uma nova modalidade menos burocrática conhecida como "emenda pix" — permitiram a deputados e senadores turbinarem o orçamento de cidades governadas por aliados, impulsionando sua reeleição. Para os entrevistados, esse resultado sinaliza para uma alta taxa de reeleição no Congresso em 2026. Eles ressaltam, porém, que isso pode se modificar a depender do desfecho da ação que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o funcionamento dessas emendas. Hoje, os partidos com mais deputados federais são PL (92), PT (68), União Brasil (59), PP (50), PSD (45), MDB (44) e Republicanos (44).

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