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2025: A ESPERANÇA COMEÇA COM O OLHAR DE UMA CRIANÇA

Reaprender o mundo com curiosidade, coragem e imaginação para criar novos caminhos.

04/01/2025 18h28 Atualizada há 3 semanas
Por: Ivanda Nivaldete Vieira da Cruz Conessa
Imagem criada por IA
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Estamos iniciando 2025, um novo ciclo que carrega consigo o peso de desafios e a promessa de possibilidades. E, para mim, não há maneira melhor de começar este ano do que com a energia transformadora da infância. Porque é no olhar de uma criança que encontramos a força da esperança, da curiosidade e da coragem para imaginar um mundo diferente.

 

Infância não é apenas uma fase da vida é uma perspectiva. É a capacidade de se encantar, de perguntar o que ninguém ousa e de ver além das limitações impostas. Por isso, no Brasil, ser criança é também um ato de resistência: contra o silenciamento, a violência e a invisibilidade que tantos enfrentam desde o início da vida.

 

Mas a infância não é algo que devemos deixar para trás. Ela pode e deve ser carregada conosco, como uma forma de enxergar e transformar o mundo. O filósofo Renato Noguera nos apresenta o conceito de infancialização, que ressignifica a infância como um estado criativo e essencial para reinventar modos de viver. E 2025 é o momento perfeito para abraçarmos esse conceito.

 

Ser criança é mágico e ao mesmo tempo confuso porque é a época que mais questionamos a todos sobre tudo, e eu como uma criança questionadora e agora adulta que sou, sempre me questionei em quase todos os espaços: Existem pessoas como eu aqui?

 

Nas aulas de história, nos livros, nos exemplos de sucesso e liderança, eu não me via. A ausência de pessoas negras nessas narrativas fazia crescer em mim um incômodo profundo. Era como se, ao não enxergar reflexos de mim mesma, o mundo estivesse me dizendo que eu não pertencia.

 

Esse silêncio me marcou. Eu me autoquestionava: Por que as histórias que me contavam não incluíam pessoas negras? Por que as contribuições de quem se parecia comigo eram invisíveis?

Essas perguntas não encontravam respostas, mas elas não morreram em mim. Pelo contrário, cresceram e me levaram a buscar, por conta própria, as histórias que foram apagadas. Descobri que o apagamento das pessoas negras não era natural, mas intencional  e que resgatar essas vozes é um ato de resistência e amor.

 

Infancializar, como explica Renato Noguera, é muito mais do que reviver a infância. É resgatar a curiosidade, a abertura e a imaginação que as crianças carregam. É “inventar novos modos de viver” e desafiar as certezas que nos prendem.

 

Essa ideia ecoa no pensamento da filósofa bell hooks, que vê a infância como o período em que a liberdade é vivida em sua essência. Para ela, é nesse estado que as barreiras do conformismo ainda não se formaram, permitindo um aprendizado genuíno e transformador.

 

2025 nos chama a isso: a desacelerar, questionar e imaginar. Como bem diz o escritor e ambientalista Ailton Krenak, em Ideias para Adiar o Fim do Mundo, “precisamos desacelerar nossa queda livre em direção à ruína e redescobrir formas mais lúdicas de existir.”

 

É aceitar o convite de começar o ano com menos certezas e mais perguntas. É se abrir para o novo e ousar imaginar o que ainda não existe. Aqui estão algumas maneiras de trazer esse olhar infantil para sua vida em 2025:

 

a.      Questione o que parece óbvio: Crianças têm a coragem de perguntar o que ninguém mais ousa. Permita-se fazer o mesmo.

b.     Busque histórias esquecidas: Resgate narrativas que foram apagadas, principalmente aquelas de pessoas negras, indígenas e marginalizadas.

c.      Cultive curiosidade e encantamento: Ao invés de enxergar desafios como barreiras, veja-os como oportunidades de aprender algo novo.

 

O olhar de uma criança carrega esperança, não porque ela ignora as dificuldades, mas porque ela acredita no poder de criar algo diferente. Como disse o educador negro Paulo Freire, “a educação muda as pessoas, e pessoas transformam o mundo.”

Que em 2025 possamos nos educar para sermos mais curiosos, mais abertos e mais humanos. Que possamos carregar o olhar de uma criança como um farol que ilumina os caminhos que ainda não ousamos percorrer.

 

A revolução que queremos começa aqui: no olhar que se recusa a aceitar o mundo como ele é. Que possamos todos, em 2025, aprender com as crianças a imaginar e criar um mundo melhor, mais equânime e acolhedor.

 

Referências

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Senado Federal, 1988.

BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 jul. 1990.

EVARISTO, Conceição. Olhos d’água. São Paulo: Pallas, 2015.

HOOKS, bell. Ensinando a transgredir: A educação como prática da liberdade. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013.

KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

NOGUERA, Renato. Por que amamos: O que os mitos e a filosofia têm a dizer sobre o amor. Rio de Janeiro: HarperCollins, 2022.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1974.

 

1 comentário
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IVONE APARECIDA VIEIRA DA SILVAHá 3 semanas UberabaExcelente reflexão! E ainda aprendi um termo novo infancializar . Parabéns!
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