Quinta, 17 de Abril de 2025 18:45
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Cidade Poéticas Rueiras

Os Confins de Mário Cortês

Um mar sem fim de poeira empalavrada.

02/02/2025 13h25
Por: Alessandro Dornelos
Confins
Confins

Eu preciso escrever agora! Se deixar para amanhã, talvez o frescor do choro entalado não seja o mesmo. Nesse dia chuvoso,  de um dia arrastado em pingos teimosos, deparo-me com a ressonância  da peça  "Confins" de Mário Cortês.
Só preciso dizer que lembrei do meu pai! Alguém essencialmente roçeiro, alguém que conhece a linguagem secreta das enxadas, das amolacões da enxada, do plantio e segredos escondidos na ciência de cada sementeira. Eu lembro do meu pai, Alguém que sacrificou o corpo para cuidar de mim e de meus irmãos, alguém que traz a mata no peito, pois a cidade é mero território passageiro e insosso. Um viver por viver!
Eu lembro de meu pai, pois o espetáculo  "Confins" de Mário Cortês apresentado na Cenartes Ateliê da Poética, encabeçada  pelo próprio Mário e Renata Santos, contando com a presença  do violeiro urbano João Costela e com a direção de Edson Fernandes, mexeu com meu sábado chuvoso.
Sinto a Q-Boa, o piso vermelhão, as camisas multicores a formar um círculo de pano e histórias, os causos, o boi, a boiada, a pinga, a Nossa Senhora da Abadia embalada nos braços teatrais, a botina, o campo, a roça, a arquitetura da mineiridade presente, as palavras de ontem ditas no hoje, o choro represado, os acordes, os dedilhados sertanejos, a afromineiridade, o boteco. 
Lembro do meu avô, do meu pai, de minha mãe, de minhas tias, de minhas ancestrais memórias em torno do fogão a lenha, dos domingos regados a pão de queijo e mesa farta, das quitandas, do verso bordado e costurado por mãos carcomidas pelo tempo na carne.
Os Confins é um território do imaginário! Pode ser físico, palpável, mas pode ser da ordem do vislumbre das querências fantasiosas.
Sou arrastado! Choro por mim, pelo meu pai! Penso na grandeza em estar nos Confins de Mário. Sou levado por essa comitiva de narrativas contadas com o corpo encoberto de poeira vermelha do meu sertão. 
E eu que não gosto de pinga, talvez beba hoje!
Embriargar-se de mim mesmo!
Na volta pra casa não ouso recitar nenhuma palavra! O silêncio é deveras gritante para competir em pé de igualdade.
A viola de João Costela vai me tocando por labirintos que havia esquecido. A voz dos confins de Mário  lembra-me de ladainhas esquecidas pelos meus ouvidos.
Estou nos Confins!
Estou feliz em ser meio estrada,  meio boi, meio boiadeiro, sem saber ao certo os limites de mim mesmo.
Por favor! 
Vá ver Confins!

O Barqueiro Produções apresenta o  espetáculo teatral:

Confins

Temporada

01,01,08 e 09 de fevereiro

Cenartes: Av. Abílio Borges de araújo, 289. Abadia

Ingressos via Sympla

Atuação e dramaturgia: Mário Côrtes

Trilha sonora ao vivo: João Costela

Direção: Edson fernandes

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