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A naturalização da infidelidade masculina

Por que os homens são facilmente perdoados quando traem suas companheiras?

22/06/2023 05h00 Atualizada há 1 ano
Por: Eloá Caixeta
A naturalização da infidelidade masculina

A publicação de Neymar em seu Instagram assumindo para o mundo que traiu a companheira grávida após ter prints que comprovavam a traição sendo divulgados, teve, até o momento da elaboração desse texto, 9 milhões de curtidas e inúmeros comentários em apoio e solidariedade ao jogador.

Cara(o) leitora(o), eu te pergunto: se fosse uma mulher famosa assumindo publicamente uma traição, a repercussão teria sido a mesma que a de Neymar? Com certeza não. Se uma mulher famosa assumisse publicamente uma traição, não receberia o apoio que o jogador recebeu, muito pelo contrário, correria até risco de morte.  

A régua do julgamento é diferente para homens e para mulheres.

Há alguns anos, a cantora Luísa Sonza foi ameaçada de morte por uma suposta traição quando casada com Whindersson Nunes, que hoje já se sabe que nunca aconteceu. Ela precisou se afastar das redes sociais devido a quantidade de haters, desenvolveu crise de pânico, e até hoje é perseguida por esse fato inexistente.

A naturalização da traição masculina é algo cultural, reforçado diariamente pela estrutura patriarcal e machista em que vivemos. É essa mesma sociedade que tenta a qualquer custo culpar a mulher que sofre estupro.

Em pesquisa realizada pela USP em 2018 com cerca de 4 mil pessoas em 17 cidades brasileiras, foi descoberto que metade dos homens que participaram das entrevistas já haviam sido infiéis à companheira.

De acordo Vanessa Gebrim, psicóloga e especialista em Psicologia: "A sociedade vê a traição masculina como uma consequência biológica. Já quando é a mulher que trai, os outros veem com indignação e desrespeito; os números de feminicídio estão aí para provar. Isso causa uma divergência muito grande, culpa do machismo estrutural".

É comum que mulheres traídas pelos seus companheiros tentem achar algo nelas que justifique a traição. Começam a achar que são culpadas. No entanto, quando nos aprofundamos no que se chama de letramento de gênero proposto pela psicóloga Valeska Zanello, podemos perceber que a traição nada tem a ver com a mulher em si, não é uma dor particular, mas coletiva, de diversas outras mulheres que também passam por essas e outras situações “normalizadas” em nossa sociedade.

Importante frisar que muitas das vezes não existe solidariedade nem com a mulher que foi traída, já que perguntas como “Mas porque você continuou com ele?”, “Eu, se fosse você, teria terminado há muito tempo”, “Ah, mas ela continuou sendo corna porque quis, ninguém a obrigou a permanecer com o cara”, infelizmente são muito comuns.

Ou seja, além de passar pela dor da traição, ainda precisam lidar com o julgamento dos outros. Com isso, muitas mulheres acabam escondendo suas histórias e sofrendo sozinhas, sem uma rede de apoio. Essa situação contribui muito para que a naturalização da infidelidade masculina continue sendo perpetuada.

Em um país sexista como o Brasil, onde as desigualdades de gênero marcam e persistem durante toda a vida da mulher, é urgente a necessidade de acabar com a ideia de que “é da natureza do homem trair”, pois essa máxima é um dos pilares que sustentam a nossa sociedade machista que tanto mata mulheres, sendo imprescindível ter um olhar crítico quanto ao julgamento que se faz do homem e aquele que se faz da mulher.

 

Referências:

Valeska Zanello: "Na nossa cultura, os homens aprendem a amar muitas coisas e as mulheres aprendem a amar os homens" | Donna (clicrbs.com.br)

Traição de Neymar a mulher grávida é naturalizada e acolhida (terra.com.br)

'Letramento de gênero protege saúde mental das mulheres' – Sociedade – CartaCapital

 

As opiniões emitidas pelos comentaristas não refletem necessariamente a opinião do Jornal de Uberaba

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MarianaHá 2 anos Uberaba-MGIrretocável! Deveria ser leitura obrigatória em todo o território nacional.
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